ESTÉRIL
O dia da inauguração da vicinal ligando Nossa Senhora do Nada a São José do Lugar Algum não teve foguetório nem discurso de palanque. O clima estava mais para reza e foi no rosário que mergulharam os anciãos dos dois vilarejos – onde não nascia gente desde Deus sabe quando. Os mais jovens há muito rumaram em êxodo daquelas bandas imprestáveis. A batina puída do vigário erguia-se até as canelas por um vento estranho, prenúncio de pé d’água, enquanto benzia e espalhava incenso. Mulheres e homens entre 30 e 40 ficaram em casa, a portas e janelas fechadas. Fornicavam assídua e vorazmente, sem pausa nem para a efeméride que acontecia lá fora. Mesmo com a profusão de cópulas, nada aconteceria. O “Crescei e Multiplicai-vos” por aqueles brejos parecia cada vez mais improvável, algo como uma vicinal sem função, ligando um espermatozoide incapaz a um óvulo sem serventia. Esta é uma obra de ficção © Direitos Reservados