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Sábado, 31 de Maio. As portas do magnífico salão nobre do Nhambiqüira Social Club abriram-se para acolher a nata da society nhambiqüirense, ali reunida para um momento sublime: a apresentação das debutantes 2008.

Tal qual família de elegantes garças, trajando branco as meninas em flor se empoleiravam no palco, a ostentar uma inocência que em nada condizia com a fama coletiva de experientes biscates, apesar da pouca idade. Incluindo a gorda e feiosinha Tércia, filha do meio do Jão da Noca.

Das sócias do clube nesta faixa etária, só não quis debutar a Fátima Djanira Fontes. Esta sim, inocentinha de verdade. Confessou em reserva a uma vizinha que o namorado, após muita insistência, conseguiu que ela pousasse a mão entre suas pernas. Fátima relatou então sentir uma certa calosidade na região acariciada, a que ela atribuiu tratar-se de um osso, ou massa tumoral de consistência firme e em avançado estágio de crescimento. Assustada com o achado, ainda que a apalpadela se desse por cima da calça, recomendou ao namorado que procurasse auxílio médico, para investigar a anomalia na região do pipi. Vejam vocês...

Mas, voltando ao nosso baile. Após a entrada triunfal com os papaizinhos, as meninotas foram agraciadas pela patronesse Laurinda Chaves com o edificante livrinho “Virgem, por que não?”. Marido da patronesse, o coronel da reserva Igor Strovsky Chaves também achou por bem presentear as debutantes com modernos Ipods, pré-carregados com arquivos MP3 do Hino à Bandeira e de uma seleção de modinhas do grande Antonio Carlos Gomes. Em elegantes trajes, o virtuoso casal contrastava com as fotos que outro dia encontrei deles num site de swing, nus em pêlo e empunhando chicotinhos.

Às sedas, tafetás, tules e cetins da ocasião se somavam elementos ainda mais diáfanos, para não dizer invisíveis, porém de outra natureza e de efeito bem menos sutil entre os presentes. Como os gases da Sra. Odila Trojan, que mesmo em ocasiões solenes dão o ar da sua graça de forma impositiva e personalíssima. O odor nauseante virou objeto de discussão nas mesas ao redor da flatulenta matrona, com os convivas tentando adivinhar que estranha composição de carboidratos, gorduras e proteínas teria formado tão explosiva bomba de metano.

Uma explicação plausível seria a péssima qualidade dos salgadinhos ali servidos. À falta de um buffet na cidade, os mesmos foram preparados no trailler de hot-dogs “Baitakão”, e se resumiam a uns engordurados croquetes de batata e salsicha, sanduichinhos ressecados de patê de presuntada, fios de ovos gorados e uma sórdida torta de pupunha e ervilha em lata.

Abrandando a pútrida química emanada da Sra. Odila, vez por outra se sentiam os perfumes almiscarados das meninas, suas mamães, titias e amigas, misturados aos vapores do uísque 12 anos que generosamente circulava nas rodinhas dos marmanjos.

Mas onde há álcool, há imprudência e desastre. E desastre houve, ainda que não causado pelo uísque dos homens, mas sim pelo inocente ponche de sidra vagabunda e peras servido às mulheres. Sem que se atinasse o porquê, e ali mesmo ao redor da baciada de espumante, a cunhada de dona Silvaninha da quitanda agarrou-se às unhadas e puxões de cabelo à professora Anabel, tratando-a, em altos brados, por “dadeira cadeiruda” e relembrando o que há décadas é voz corrente em toda esquina – o seu intermunicipal furor uterino, que não encontrando vazão suficiente em Nhambiqüira, vem sendo aplacado com garanhões das redondezas.

Com as doze badaladas vieram as danças das debutantes com seus pais e em seguida com o famoso Flávio Júnior, um quase clone do quase homônimo ídolo e que há anos quase faz sucesso com seu violão de doze cordas no Muquifo da Filó, inferninho quase centenário estabelecido no vizinho município de Seixas.

São três e meia da manhã, e estou fechando a edição desse imparcial bissemanário. Por volta das cinco e quinze, quando os exemplares chegarem às portas dos nossos respeitados assinantes, se Deus quiser estarei bem longe daqui. Fora do alcance dos jagunços que certamente serão pagos para dar cabo deste ex-colunista social.
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