O MELHOR DA FILA É ESPERAR POR ELA
Imagem: Thiago Cayres
Deu na
"Folha": paulistano às vezes passa mais tempo na fila do que no
programa que a originou. É tanto tempo que ela própria virou o passeio. As duas
horas em média de fila no restaurante acabam sendo até mais cobiçadas e
proveitosas que as próximas duas de esbórnia. Petisca-se e birita-se na faixa,
paquera-se, twita-se, lê-se, medita-se, enfim...
Como dizem os americanos, no pain, no gain. No caso, sem espera não tem graça. Só que tem cada vez menos pain no processo, com os mimos e agrados que os donos da casa servem para amenizar a demora e o desconforto em pé. Digo em pé, mas até isso está mudando. Tem atração que oferece banquinho, mesa, cadeira e sabe-se lá mais o que para fidelizar a clientela.
E a fila, quem diria, de ritual enfadonho virou objeto de desejo.
********
- E aí, faz muito tempo que tá aqui na fila?
- Umas três horinhas, mas passou tão rápido. Daqui a pouco já chega a minha vez de sair. Mas até que deu pra aproveitar bastante. Sábado que vem tem mais, se Deus quiser.
- Olha lá o espertinho, quer voltar pro fim da fila de novo... é o fim do mundo, só aqui no Brasil mesmo.
- Pois é, onde é que está a polícia nessas horas?
********
- Moço, eu vou ser obrigada a entrar um pouco aí no restaurante pra comer alguma coisinha, mas não queria perder o meu lugar aqui. Tem jeito de você guardar a minha vaga? Volto rapidinho, juro...
********
- Eu não sei onde é que a gente vai parar desse jeito.
- Porque tá falando isso?
- Tá vendo aquela outra fila, lá no outro quarteirão? Então, é a fila pra entrar na fila. Tem até cambista por lá. E vou te dizer uma coisa, deve ter fila de cambista antes dela...
- O garçon, o garçon, aproveita aí!
- Black Label, senhor?
- Pô, mas é só essa porcaria que você sabe servir? Deixa de miséria e me traz aí um Buchanan’s 18 anos Special Reserve com duas pedras de gelo.
********
- Ai, meu Santo Expedito, já tá chegando a nossa vez.
- É a vida, bem. Nem tudo são flores, tem sempre a hora do sacrifício.
- Que pena, amor. Me sinto na fila pra câmara de gás num campo de concentração nazista. Não entro de jeito nenhum. Não, não e não!
- Já sei, vamos armar um cirquinho, inventar alguma coisa. Finge que tá tentando falar no hospital, fala que a sua tia está nas últimas, e vai deixando os outros passarem na frente. Vai, chora aí, arranca os cabelos que eu ajudo a explicar a história pro pessoal. E assim a gente vai enrolando até umas três da tarde, que é quando fecha o restaurante e distribuem as senhas pra entrar na fila amanhã de novo.
Como dizem os americanos, no pain, no gain. No caso, sem espera não tem graça. Só que tem cada vez menos pain no processo, com os mimos e agrados que os donos da casa servem para amenizar a demora e o desconforto em pé. Digo em pé, mas até isso está mudando. Tem atração que oferece banquinho, mesa, cadeira e sabe-se lá mais o que para fidelizar a clientela.
E a fila, quem diria, de ritual enfadonho virou objeto de desejo.
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- E aí, faz muito tempo que tá aqui na fila?
- Umas três horinhas, mas passou tão rápido. Daqui a pouco já chega a minha vez de sair. Mas até que deu pra aproveitar bastante. Sábado que vem tem mais, se Deus quiser.
- Olha lá o espertinho, quer voltar pro fim da fila de novo... é o fim do mundo, só aqui no Brasil mesmo.
- Pois é, onde é que está a polícia nessas horas?
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- Moço, eu vou ser obrigada a entrar um pouco aí no restaurante pra comer alguma coisinha, mas não queria perder o meu lugar aqui. Tem jeito de você guardar a minha vaga? Volto rapidinho, juro...
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- Eu não sei onde é que a gente vai parar desse jeito.
- Porque tá falando isso?
- Tá vendo aquela outra fila, lá no outro quarteirão? Então, é a fila pra entrar na fila. Tem até cambista por lá. E vou te dizer uma coisa, deve ter fila de cambista antes dela...
- O garçon, o garçon, aproveita aí!
- Black Label, senhor?
- Pô, mas é só essa porcaria que você sabe servir? Deixa de miséria e me traz aí um Buchanan’s 18 anos Special Reserve com duas pedras de gelo.
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- Ai, meu Santo Expedito, já tá chegando a nossa vez.
- É a vida, bem. Nem tudo são flores, tem sempre a hora do sacrifício.
- Que pena, amor. Me sinto na fila pra câmara de gás num campo de concentração nazista. Não entro de jeito nenhum. Não, não e não!
- Já sei, vamos armar um cirquinho, inventar alguma coisa. Finge que tá tentando falar no hospital, fala que a sua tia está nas últimas, e vai deixando os outros passarem na frente. Vai, chora aí, arranca os cabelos que eu ajudo a explicar a história pro pessoal. E assim a gente vai enrolando até umas três da tarde, que é quando fecha o restaurante e distribuem as senhas pra entrar na fila amanhã de novo.
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“Vendo
pela melhor oferta lugar na fila do Massimo, Famiglia Mancini, Figueira
Rubaiyat e Dom. Tratar direto com proprietário”.
“Realize
o sonho da fila própria. Financiamento em até 20 anos pela Caixa, sem
comprovação de renda”.
“José
Bianconte de Sousa Lemonzzito recebeu esta mensagem e encaminhou para seus
amigos. Em menos de 24 horas, sua caixa postal estava abarrotada de senhas para
filas as mais diversas. Não quebre esta corrente: passe adiante e veja o que
acontece”.
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